Jogo sensual no chão do peito. Fafe:
Labirinto, 2020
Isadora(s)
Ao contratar o barco [1903], Raymond explicou através de
pantomima, e um pouco de grego antigo, que desejava que a nossa viagem, tanto
quanto possível, se parecesse com a de Ulisses. (Isadora
Duncan, A Minha Vida)
Everything
must be undone. (Isadora Duncan,
"The Dance of the Greeks"; La Danse de l’avenir, p. 50)
I hate dancing. I am an expressioniste
of beauty. I use my body as my medium, just as the writer uses his words. Do not
call me a dancer. (Isadora Speaks, p. 53)
1.
A primeira palavra de Jogo Sensual no Chão do Peito, poema (dramático) de Graça Pires, em seiscentos e trinta e quatro versos e cerca de uma trintena de sequências, é uma palavra de acção. Mas de acção intransitiva. “Aceito.”, diz, com ponto final, o eu poético. Porém, continua: “Deliberadamente aceito/reencontrar-me comigo.” A acção do verbo intransitivo muda abruptamente. Afinal a aceitação volve-se transitiva e dolorosa. Na primeira sequência deste poema, auto-épico (um prólogo, cantos e uma coda ou epílogo), que se espraia pelo campo semântico do olhar, radica o programa do que se vai seguir. Há um antagonista visível – justamente o “[seu] olhar” – que obriga à urgência de um reencontro. A poeta não recusa. E o grande antagonista “Tempo” terá, então, “o jogo de quem vence”. O corpo, por meio metonímico dos pés, “no improviso da dança”, inicia esse jogo, feroz, de enfrentamento do eu com a sua alteridade, com a sua memória. E, “na trama deste enredo”, num estranhamento de si, a poeta nomeia a Outra: “Isadora”.
E a autobiografia duplamente ficcionada, da bailarina e da poeta, começa a desenrolar-se pelo fio enganador da roca de Penélope.
2.
Que fantasma é este que se desenha e de quem é o nome que encarna o simulado e especular enfrentamento de si? É, como se lerá, o fantasma mítico de Angela Isadora Duncanon, a norte-americana Isadora Duncan (1877-1927) que, quase sozinha (talvez ao lado de Nijinsky), simboliza uma revolução na Belle Époque da Ginástica Rítmica e da Ginástica Sueca. Símbolo da libertação do Corpo pela Dança, da libertação do corpo das mulheres das barbas de baleia e das normas antinaturais do Ballet, lutadora pela restituição do Corpo às Mulheres, defensora da trilogia programática Dança-Natureza-Nudez, Isadora, leitora ávida, melómana indefetível mas estudante bissexta e impaciente, foi uma pioneira desencontrada do seu tempo que dizia, sem pudor, ter somente três Mestres: Jean-Jacques Rousseau, Walt Whitman e Nietzsche, ou melhor, Beethoven, Nietzsche e Wagner!
Largando, com os irmãos e outros libertários, as roupagens da sua classe, procurou um modelo de vida alternativa, peripatético e dionisíaco, inspirado no romântico ideal de uma mitificada Grécia Antiga, alimentado intelectualmente nos seus primeiros tempos de Londres (com Andrew Lang, o helenista, em lugar de destaque), e consubstanciado, aliás, no movimento Lebensreform da Alemanha e em comunidades anarquizantes como a de Monte Verità, na Suiça (que visitou no terrível ano de 1913), dançando, como mais tarde Laban e os seus discípulos, descalça e vestida com ligeiras e transparentes túnicas desenhadas segundo a estatuária grega e a pintura. Antes da Grande Guerra, Isadora, a californiana, ladeara o helenismo, o pacifismo, o feminismo, o safismo, a antroposofia, a psicanálise, o anarquismo, o comunismo, o vegetarianismo, a filosofia oriental via ocultismo, enfim, o movimento (simbolista) da dança como arte total, ritual e religião.
Dançou pelo mundo e conheceu a glória. Perseguiu, de 1904 até ao fim dos seus dias, da Alemanha, aos Estados Unidos, da França à URSS, o inatingido sonho de fundar uma escola de Dança gratuita para crianças, sobretudo meninas, na qual o conhecimento seria alcançado através da prática da “expressão natural”. Era pagã, contra o absurdo do casamento, contra o sufragismo e o feminismo – enquanto existisse parto com dor! -- e acreditava na maternidade. Perdeu os seus três filhos e perdeu-se totalmente de si, mas não da Dança. Em Corfu, sacrificou, no mar, a cabeleira em sinal de luto.
Casar-se-ia por generosidade com um poeta nevrótico. Viveu a sua decadência e não entendeu o tempo novo de Zelda Scott-Fitzgerald. Ditou e inventou as suas memórias parciais por necessidade económica. Morreu num acaso trágico e espectacular que parecia encenação sua.
3.
E quem é, por seu turno, a Isadora do poema?
Esta Isadora de Graça Pires inscreve – nas paredes de ressonâncias platónicas – gestos indecisos, palavras sombrias, pressentimentos, lágrimas, gargalhadas e desalentos. Reconhece a solidão que não mascara com as lembranças. Para se observar, para se ver de fora, esta Isadora recorda, ao contrário de Ulisses, o seu nome, a sua infância, inocente, as suas fugas, o mar, o corpo nu, a boa solidão de estar só, a vertigem. Treina a evasão de si. Nascida sob a estrela de Afrodite, loira, olhos violeta de revoltada, pernas esguias, com elas soerguia o corpo até à intimidade do chão. Descobria que a Natureza era a sua única escola.
Sob a influência da Mãe, aprendeu a feminilidade sem enfeites. Adquiriu poder espiritual a ouvi-la tocar música clássica e a recitar os poetas do seu tempo.
Começou a decifrar os mitos nos vasos gregos e na pintura de Botticelli. Percebeu o sagrado e o profano e que a dança é a expressão divina da humanidade em direcção à luz. Dançou descalça imitando os rituais aos deuses e aos anjos. Foi cúmplice das bacantes e dos bichos, das árvores e das chuvas, como Francisco de Assis. Procurou as máscaras da tragédia grega até à alucinação das vozes.
Muito jovem, desejou fugir, mas interditou-se os sonhos.
Regressava ao corpo sempre que o sangue lho pedia. Com as suas mãos – cingia, acenava, manuseava, suplicava, ordenava, tacteava --, imitava o ritual da posse e aprendeu a voar para a luz do sol purificadora.
Rumou à Europa e pensou na vida como peregrinação.
Encenou o seu corpo seminu e vestiu-o ligeiramente para o júbilo do voo; criou uma coreografia sobre música que só ela escutava. Inventou um erotismo de gestos abstractos das coxas firmes, das articulações ágeis, disfarçando a dor; com a sua pele suada, enfrentou as vozes que lhe espiavam o rodar das ancas para a acusar de imoralidade. Foi enlameada e difamada e acusada de escândalo e provocação. Mas os seus gestos, de tumulto erótico, vinham do instinto e eram arquetípicos, primordiais.
Recomeçou sempre, bebeu em todas as fontes que lhe mitigavam a solidão. Ouviu e dançou a música – de Chopin, de Beethoven, de Wagner. Esculpiu, no espaço, figuras retiradas da vida: pétalas de rosa a cair, velas ao vento a lutar contra as ondas. Mimetizou a imobilidade e o espasmo do movimento convulso. Experimentou o transe e a euforia, o ar e o fogo da emoção dançada. Inventou gestos inspirados pelo enigma dos Mistérios de Elêusis. Nada nem ninguém a desviou do palco. A posteridade culpá-la-á por ter sonhado. Mas sonhou, trabalhou, deixou-se fascinar, enfeitiçar. Era possuída por um felino interior que lhe ditava as coreografias.
Adorou os aplausos, mas nunca acreditou em Salvação. A Dança era o seu credo. Quis fazer uma escola habitada por crianças e ternura. Em país nenhum, da América à Rússia bolchevique, foi entendida.
Enrolava-se na cortina azul, seu único cenário. Chegou até a escrever a sua vida. Percebeu, porém, que as palavras são insuficientes.
Aceitou o destino de ser mãe, o sublime anseio.
[Rememora agora o passado e interroga-se: “Como contar aqui todos os tropeços, /todos os despojos, todas as solidões?”]
Lembra-se da fama, coisa vã. Surpreende-se com a passagem do tempo. Recorda os amores, as paixões, os desencantos.
Teve maus pressentimentos que a levaram a gostar de dançar ao som da Marcha Fúnebre de Chopin. Descobre, com a morte dos filhos, o grande, o único grito maternal.
E renuncia ao amor. Horror, guerra e caos. Mas ressuscita.
Regressa aos Estados Unidos da América, lugar onde nascera.
Naquele dia frio do sul da França, vê a natureza em convulsão e pressente um acto sacrificial. Tenta cobrir os ombros com o xaile vermelho. Cavalos cavalgam as ruínas do seu peito. O coração parou. “Morrer sim, mas devagar”, parece lembrar a bailarina. A poeta.
Alguma Bibliografia
DUNCAN, I., My Life, New York:
Liveright, 1927. Em francês: Ma Vie, tradução Jean Allary, Paris:
Gallimard, 1932; 2009. Em português: Isadora: Memórias de Isadora Duncan,
tradução Gastão Cruls, Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
---,
Isadora Speaks, San Francisco, City Lights Books, 1983. Em
português: Isadora: Fragmentos autobiográficos; tradução Lya Luft, Porto
Alegre: L&PM, 1996.
---, La Danse de l’avenir ["Der Tanz der Zukunft”, 1903],
suivis de Regards sur Isadora Duncan, selecção e tradução Sonia
Schoonejans, Bruxelles, Éditions Complexe, 2003.
Eugénia Vasques
Colares, 24 de setembro de 2020
Prefácio do livro
A VIDA COMO UMA LONGA DANÇA
Pode a carreira de uma bailarina expor as vivências,
pensamentos e sofrimentos de uma mulher? Pode a viagem no tempo de uma
carreira, de uma vida, revelar a intimidade intangível de uma mulher, enquanto
descreve os movimentos do seu corpo?
GRAÇA PIRES, no seu recente livro JOGO SENSUAL NO
CHÃO DO PEITO (Ed. Labirinto, 2020), oferece-nos uma leitura que permite
responder afirmativamente às duas perguntas.
Sobre a (auto)biografia de Isadora Duncan, a Poeta
criou um poema épico (exercício raro nos dias que correm), em que o sujeito simultaneamente
real e pretexto, convida e desafia o leitor. Mais do que bailarina, Isadora é
uma mulher. Uma mulher que aceita expor-se: "abro devagar a seda de meus
véus para / desvendar o mel e o sangue dos sentidos, /que a vida e a morte
consentiram" (p. 15). Uma mulher em fuga: "Perto do mar reservei o
lance irrepetível / da evasão onde me desencontrei de mim / e me aguardei e me
persegui, / amotinada, sempre, nos atalhos dos dias" (p. 18). Porém, uma
mulher que nunca deixou de viver a sua vida, de dançar - " E dançava. /
Incansavelmente dançava. / [...] / [...] como se voasse em chamas" (p. 32)
- e de dar sempre o melhor de si: "Nenhum sinal de insubmissão / eu
consentia aos músculos. // O meu ofício era o anúncio de movimentos / que exigiam
e anulavam todos os excessos, / mesmo os que amotinavam o sangue e o
nervo" (p. 35).
Nesta viagem pela vida de Isadora, estão os altos e
baixos, desde as apoteoses - " Quantas vezes me comovi / por bradarem o
meu nome / de forma cúmplice e calorosa" (p. 36) - até à perda terrível
dos filhos (p. 46).
A persistência na dança sobrevive ao sofrimento e
ao desencanto das paixões da vida. Isadora não fugiu às paixões - "Arredia
como um pássaro retornava / ao que unia e dividia o rasgão das noites / mais
secretas, mais privadas", mas confessa logo que "Desprevenida errei
todas as paixões" (p. 44). A dança, essa persiste: "Sei que as dores
e os desencantos do amor / transformaram a minha arte. / Mas nunca refreei o
gosto de dançar / ou vedei dentro de mim o desinibido / anúncio do
cansaço" (p. 44). São assim as mulheres que sobrevivem aos desgostos e ao
sofrimento sem deixar que sejam pretexto para seja o que for. E no epílogo, a
mesma coerência:
Os cavalos, gritando,
vieram no seu trote.
De meu brilho se tomaram.
Cavalgaram as ruínas do meu peito
e meu silêncio sustiveram na garganta.
O coração, tão breve,
ficou suspenso por uma névoa
que, num instante se dissipou.
Devagar bailando
Devagar morrendo"
(pp. 53-54)
Voltando à pergunta inicial, sim, é possível
revelar a intimidade intangível de uma mulher, mas o mistério sobrevive à
revelação.
Carlos Campos
23-12-2020
Segundo dia instável deste novo
21. Estado de emergência, confinamento desde as 13 horas e, decido
"terminar" mais uma leitura.
«JOGO SENSUAL NO CHÃO DO PEITO» é
o novo "desafio" poético da amiga que muito estimo e admiro Graça
Pires.
Com a chancela Labirinto, Graça
Pires autora já distinguida com vários prémios literários, ousa criar um
apelativo sentir de uma autobiografia duplamente ficcionada, onde exercita
versos sedutores no meio de personagens "identificadas" e
simetricamente dialogantes entre o traço de quem escreve e o espelho de um
olhar interrogativo, nas envolvências de um reflectir.
.../...
" E dancei descalça por todos
os lugares,
imitando os rituais aos deuses
das límpidas manhãs,
ou aos anjos das trevas,
na euforia do enlevo."
(pág.23)
É este "contar" livre,
que desenha o título desta obra num correr constante ao encontro de telas personalizadas,
onde o hoje não vacila nos enredos do ontem, e o cuidado do pormenor é sempre
um parágrafo dialogante com o verbo versejar.
.../...
Tentei ignorar o tempo
golpeado de incertezas,
recusando o desgaste
dos caminhos percorridos
e das lembranças
deslizando sobre a pele.
(pág. 49)
Graça Pires define assim, quase um
diário de parágrafos vividos, no enclave de olhares sonhadores, e
"sabores" sempre personalizados, deixando ao leitor a honra de
contracenar nos jogos sensuais esculpidos no chão do peito.
.../...
"Nos sabores que à boca
concedi,
interroguei os mares, iludi
distâncias
e sobre o tempo saltei sem dar por
isso."
(pág. 52)
Mais uma satisfação plena de uma
leitura "romanceada" em seiscentos e trinta e quatro versos, onde
cada ponto final é um convite a uma leitura interpretativa e digna de um
sorriso de agrado constante.
Fica o convite!
José Luís Outono, poeta
E-mail, 02 janeiro 2021
Terminei
de ler o seu livro. Belíssimo, como já nos habituou, aos seus leitores!
A solidão
é, para mim, transversal a todos os poemas, desde a solidão reveladora, dos
momentos da infância, da descoberta e consciência do corpo, à solidão vazia, em
que a vida perde o sentido.
Há
momentos encantatórias em que a dança se revela como movimento extático, dando
a Isadora a configuração de uma sacerdotisa, de uma feiticeira, e nós somos
testemunhas do seu rito. Participamos nele, aliás! A voz que convocou é
antiquíssima, arquetipicamente deífica e profundamente humana. Uma menina que
se descobre, que cresce, torna-se mulher madura e de sucesso, que conhece a dor
maior de perder os filhos e vê o prenúncio da própria morte. E, contudo, essa
mulher foi sempre fidelíssima à sua natureza, pagando por isso com a solidão.
Pois é com a solidão que pagamos a nossa liberdade. Mas temos o direito de ser
quem somos, temos direito de o expressar. Como a luz breve de um relâmpago.
Sempre um
maravilhamento lê-la, sempre uma gratidão profunda por nos termos cruzado.
Também "penso na vida como uma peregrinação", como caminho. Sou
feliz pelas pessoas que tenho encontrado neste caminho que estou a trilhar. A
Graça é uma dessas pessoas.
Um grande
abraço,
Samuel
Pimenta, poeta
E-mail, 8 janeiro 2021
Poesia
em vários tons
Graça
Pires versus Isadora Duncan
Graça Pires é uma poeta que
não quer ser tomada por prodígio para o que teria de acolher resposta
substantiva aos sucessivos livros com que vai avolumando a sua obra, mas cujo
reconhecimento em prémios atribuídos desencoraja ostracismos por vezes parentes
de complô de que ela admitisse ser o desafortunado alvo.
Em todo o caso, o seu
último livro Jogo sensual no chão do peito traz por companhia um
prefácio muito diferente daqueles que se usam para empurrar o livro ou o
Autor, mas que situa já no âmbito do ensaio. Ensaio esse que fornece ao leitor
motivos capazes de despertarem a sua curiosidade. E quem é esta prefaciadora
ilustre? O seu nome será familiar a muito boa gente, especialmente quem
acompanho o teatro e o bailado de perto. Eugénia Vasques. Reputada crítica de
Teatro, mostra-se conhecedora profunda de quem foi a bailarina Isadora Duncan,
elaborando um síntese histórico-biográfica sobre a norte-americana que
revolucionou a Dança, interveio em acções ligadas à condição feminina, pugnando
pela emancipação da mulher ao bater-se pela mudança de usos e costumes
especialmente danosos para aquela, vindo a falecer em França em condições
trágica.
Ora, neste livro, Graça
Pires pretende rever-se, à custa de seiscentos e quatro versos, na controversa
bailarina, tomando como base o que da ciência certa se sabe sobre o trajecto
acidentado por ela percorrido – Isadora foi autora de um diário – bem como os
comportamentos cuja natureza se revestiam de traumáticos problemas de
consciência e de dor aos quais Graça Pires, num empenhamento lírico servido por
um estilo notável já consolidado, recupera para celebrar a convergência
emocional e as semelhanças psicológicas consigo própria que foi buscar ao seu encontro
com a mulher-mito.
Eugénia Vasques, mais
atenta ao enquadramento histórico, tem palavras encorajadoras para Graça Pires,
fazendo questão de separar sempre a Autora do Fantasma.
E termina.
E a autobiografia
duplamente ficcionada, da bailarina e da poeta, começa a desenrolar-se pelo fio
enganador da roca de Penélope.
Júlio Conrado, escritor
“As Artes entre as Letras”,
10 fevereiro 2021
ESTREIA NO DIA 31 DE MAIO, NO TEATRO SÃO LUIZ, A MAIS RECENTE CRIAÇÃO DE RITA LELLO, ISADORA, FALA!, UM SOLO POÉTICO CRIADO EM COLABORAÇÃO COM EUGÉNIA VASQUES, A PARTIR DAS PALAVRAS DE GRAÇA PIRES E DE ISADORA DUNCAN.
Criadora, aventureira revolucionária, defensora ardente do espírito poético, da liberdade e dos direitos da mulher; livre pensadora dotada de lucidez crítica, originalidade e ousadia, defensora do amor, pedagoga apaixonada. É explorando estas dimensões que ouvimos Isadora Duncan neste texto, a partir do itinerário proposto na poesia de Graça Pires em Jogo Sensual no Chão do Peito e da prosa da própria Isadora.
“O desafio para trabalhar Isadora, nomeadamente o poema (dramático) de Graça Pires, foi-me colocado por Eugénia Vasques, em 2019. Trabalhar a questão do feminino, do feminino vanguardista do qual um dos arautos foi sem dúvida Isadora Duncan, explorá-lo, conhecê-lo e depois dar-lhe espaço e voz, foi-se concretizando à medida que encontrava nas palavras de Isadora o eco dos desejos de liberdade e reivindicações que ainda hoje as mulheres reclamam”, revela a encenadora e atriz.
ISADORA, FALA! estará em cena até dia 9 de junho, de quarta a sábado às 19h30 e no domingo às 16h.
Rita Lello chega a Isadora Duncan, com o desafio da professora Eugénia Vasques, a partir do poema de Graça Pires, da avó de Rita Lello e da mulher que foi Isadora. Criadora, aventureira, revolucionária, defensora ardente do espírito poético, da liberdade e dos direitos da mulher: Coreógrafa, bailarina, mulher do mundo.
Não é um espetáculo biográfico, Rita Lello não é a atriz que faz de Isadora Duncan, são as palavras que escreveu, disse, sempre na primeira pessoa.
Rita Lello em palco, com estas palavras de Isadora Duncan, e liberdade. Há mulheres, sim! Também um feminismo, mas sempre liberdade.
Ouvir a voz de Isadora Duncan pela voz de Rita Lello. Livre pensadora, original, a defender o amor e dança que quis mudar e ainda hoje lá estão os traços dos movimentos desta mulher.
José Carlos Barreto, 30 Maio 2023