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terça-feira, 24 de maio de 2022

FUI QUASE TODAS AS MULHERES DE MODIGLIANI

 



Fui quase todas as mulheres de Modigliani. Braga: Poética, 2017


Neste livro, que é um livro de poesia, estamos na senda duma ficção. O que Graça Pires nos oferece são retratos: retratos realizados a partir de retratos, espécie de meta-retratos. Uma voz poética que se expande, que se multiplica nas vozes de quase todas as mulheres de Modigliani, mas que compreende também o sentido duma unidade, ao congregar quase essas vozes numa só voz.

Amedeo Modigliani, pintor italiano, nasce em Livorno (Toscânia), em 1884, e morre em Paris, em 1920. Depois dos primeiros estudos de pintura em Florença e Veneza, aos 22 anos Modigliani transfere-se para França a fim de ter contacto com os grandes movimentos da vanguarda europeia e deles tomar parte. Contam-se inúmeras historietas sobre as suas aventuras de bon vivant, promovidas pelo próprio cenário artístico em que Modigliani se movia, entre Montmartre e Montparnasse, sendo por vezes difícil distinguir a realidade da efabulação. O testemunho mais fiel, como em tantos outros artistas, continua a ser a obra. A delicadeza dos rostos langorosos pintados por Amedeo Modigliani continua a encantar e contém todo o mistério expresso pela poética dum artista que se mantém enigmático.

O seu incomparável estilo concentrou-se em poucos temas: o retrato, o nu feminino e os estudos para esculturas. Mas foi, de facto, o retrato que lhe deu maior notoriedade. Um retrato não é, como sabemos, uma imagem realista de tipo objectivo. Um retrato é sempre uma interpretação da pessoa retratada, projectada pela sensibilidade do artista. A premissa fundamental para a retratística é que o retrato represente a essência interior do sujeito do ponto de vista do artista e não apenas a aparência externa. Ora, o recurso mais evidente quando falamos de representação em Literatura é a Mimésis. A Mimésis é uma figura de retórica, usada pela narrativa e pelo teatro, que se baseia essencialmente no emprego do discurso directo e na imitação do gesto, voz e palavras dum sujeito. Esta imitação verosímil da natureza humana, que constituía, segundo a estética aristotélica e clássica, o fundamento de toda a arte, geralmente abre caminho à autodiegese, isto é, a um sujeito que narra as suas próprias experiências na primeira pessoa.

Como sabemos, a relação entre a literatura e as artes plásticas é hoje um dos campos de estudo das literaturas comparadas, o que tem permitido apontar algumas das principais noções que ocorrem na caracterização da criação artística, desde a conceptualização à imaginação, como extensíveis ao domínio da expressão literária. A presente recensão, porém, não terá por base uma análise deste tipo, pelo que me aproximarei deste campo por instinto e de forma muito espontânea.

Aceitamos então, com base na Mimésis aristotélica, que o intuito da arte não é apenas o de representar a superfície visível dos homens e das coisas, senão o seu âmago, o seu sentido interno, pois neles, e não na aparência ou nos detalhes imediatos, reside o selo da índole humana e a sua realidade autêntica. Por isso o retrato representativo se tem esmerado, ao longo de séculos de história das artes e das ideias, na imitação do carácter e das qualidades morais de diferentes homens e mulheres. Se, nas artes visuais, os olhos são o lugar no qual é vista a informação mais completa, fiável e pertinente sobre o sujeito retratado, que elemento caberá à poesia, que reflecte toda a sua essência unicamente através da palavra? A voz. A voz em toda a sua singularidade intransmissível. Em poesia, o espelho da alma é a voz do sujeito, o que compreende a musicalidade, os campos lexicais, os modos de conexão das imagens, em suma, a espessura vibrante de cada verso é o ADN do sujeito poético.

Dizíamos que Modigliani amava as mulheres. Pois bem, parecia amá-las tanto e de um modo tão passional, que não lhe restava senão essa imperativa necessidade de as pintar para lhes possuir, digamos assim, a alma. Estes quarenta poemas de Graça Pires são, do primeiro ao último, atravessados por uma solidão, uma soturnidade e um erotismo que os liga inconfundivelmente às telas que os inspiraram, daí que o prazer da leitura deste livro, não dependendo exclusivamente disso, se intensifique muito com o recurso às próprias imagens (as quais tive o prazer de receber, coladas a cada poema do manuscrito, pelas mãos da própria autora).


Mas quem foram essas mulheres? Jeanne Hébuterne, a última e a mais importante companheira na vida de Modigliani, modelo na maioria dos seus quadros, é a figura que abre e fecha o livro: «Jeanne», «Jeanne com blusa branca», «Jeanne de ombros nus». Outro nome que se repete é o de Anna – «Anna com vestido preto», «Anna com vestido branco» – provavelmente em referência a Anna Achmatova, a famosa poeta russa que Modigliani também retratara e com quem teria estabelecido uma profunda amizade. Aliás, Achmatova deixaria, após a morte do amigo, um testemunho precioso acerca do verdadeiro Modi. Encontramos ainda uma série de outros nomes dispersos, entre os quais: «Lunia» (numa referência a Lunja Chzechowska, uma mulher polaca, casada, com quem Modigliani viveria uma relação sobretudo espiritual), «Georges van Muyden», «Alice», «Lolotte», «Antonia», «Marie», «Victoria» e mais uma série de figuras mantidas no anonimato.

Embora o livro esteja muito longe de ser exaustivo ou de levar ao extremo a sua fidelidade aos factos – muitas outras mulheres, ausentes neste livro, aparecem nomeadas em estudos sobre o pintor (Gilberte, Maud, Thora, Margherita, Lucienne, Gaby, já para não falar de Beatrice Hastings e Simone Thiroux) – estamos, ainda assim, perante poemas que manifestam uma relação directa com as fontes biográficas que os inspiraram, o que denota algum estudo e um trabalho de pesquisa prévio. Esta procura da verosimilhança, que caracteriza mais a narrativa de ficção do que o texto poético, gera aqui uma importante tensão entre criação e recriação, entre escrita e reescrita. Parece claro que a poeta vê estas mulheres vendo-se a si mesma: elas revelam-se também a partir dum subtil jogo de espelhos. Isto torna-se ainda mais evidente em poemas impessoais, em que o nome da mulher retratada é suprimido. É o caso deste «Menina com bibe», onde a poeta convoca imagens duma infância, dum passado que não será tanto o da menina retratada (precisamente porque ainda é uma menina) senão o seu próprio: «Como esquecer aquele tempo / em que eu brincava com o vento / e rebolava na erva e cantava / com as cigarras e me espantava / com o desenho das nuvens? / Como não lembrar os dias / em que nada quebrava a porcelana / dos lírios de intacta leveza?» (p. 9).

Nesta imersão em aspectos factuais da vida do pintor deparamo-nos ainda, por exemplo, com o poema «Elvira». Elvira, também conhecida por Quique, seria filha de uma prostituta que Modigliani conheceria num café e por quem se sentiria muito atraído. Veja-se como a sua voz, na primeira pessoa, condiz com este perfil de mulher libertina, quando Elvira nos revela: «Não amassei o pão. Não lavei a roupa. / Tenho os pés inchados e a cor do asfalto / trespassada no olhar. / O corpo agitado acima da desordem / tornou-me fugitiva, clandestina, / a versão disfarçada do meu nome» (p. 11). Com Modigliani nasceria uma relação puramente sexual. Segundo algumas fontes, os dois teriam inclusivamente sido vistos a dançar nus no pequeno quintal de Amedeo. Assim, independentemente da figura que os inspire, a nudez e o erotismo assumem-se, pois, como dois marcadores centrais deste livro (de que é exemplo o poema «Nu de costas»).

Outro caso evidente de aproximação biográfica é o poema «A amazona», inspirado num dos poucos quadros encomendados a Modigliani a troco duma remuneração. A mulher que no quadro surge numa pose muito sóbria, claramente aristocrática, teria pedido ao pintor que a retratasse com a sua jaqueta escarlate, facto que não agrada esteticamente a Modigliani, pintando-a de amarelo. Isto terá, supostamente, desencadeado uma discórdia entre ambos e levado a mulher a repudiar o quadro. E, a encerrar o livro, a referência notória ao suicídio de Jeanne Hébuterne, que terá ocorrido um dia após a morte de Modigliani, então com 35 anos, vítima de tuberculose: «Ouço a tua voz. E vejo-te. E desço, / a pique, até à eternidade dos teus olhos» (p. 46). Jeanne, então grávida de nove meses, ter-se-á atirado duma janela de casa dos seus pais logo depois de ter recebido a notícia, deixando órfã uma menina filha de ambos, também ela de nome Jeanne, de apenas dois anos. Embora os pais de Jeanne se opusessem sempre à relação da filha com o boémio Modigliani, dez anos após a morte de ambos aceitam a trasladação do corpo de Jeanne para o Cemitério de Père Lachaise, onde estão sepultados um lado do outro. No seu túmulo pode ler-se: «Compagna devota fino all'estremo sacrifizio».

Também a intertextualidade marca uma presença importante neste livro. São vários os poemas que se deixam atravessar por referências a outros autores: «Gosto de ler Rimbaud / não falarei, não pensarei em nada: / Mas um amor imenso / invadirá a minha alma…», ou mais adiante: «L’amour est a réinventer, on le sait. / Eu também sei» (p. 26). No poema «Lolotte» é citado Herberto Helder, em Os Passos em Volta: «E lembro o poeta: é tão degradante a insolência / dos jovens como a devassidão dos velhos» (p. 27). Ou ainda, Charles Baudelaire, no poema «Nu feminino»: «A citar, com fervor, o teu poeta favorito, / como se ele tivesse escrito para mim: / Há mulheres que inspiram / o desejo de as vencer e possuir, / mas esta dá vontade de morrer / lentamente sob os seus olhos» (p. 37). À excepção de Herberto Helder, a citação de autores que foram contemporâneos a toda aquela ambiência parisiense em que se moveu Modigliani é, mais uma vez, expressiva dessa imersão em aspectos factuais da vida do pintor (aliás, um facto consensual aos inúmeros estudos biográficos é, precisamente, que Baudelaire teria sido o poeta mais lido por Modigliani e o seu favorito).

Claro que, tratando-se de um livro que nasce dessa tensão, a que já aludi, entre criação e recriação, entre escrita e reescrita, coube muitas vezes à poeta intuir, formular um futuro e um passado para cada sujeito poético. Vejamos a «Mulher com gravata preta»: «Houve, na minha infância, / um mar antiquíssimo com barcas / acendidas no meio da noite. / Um vínculo sagrado ou de sangue / me liga à memória das ondas» (p. 10). A poeta acaba, muitas vezes, a personificar uma figura que já em si é personagem, retirando para isso pequenos detalhes, características expressas na tela. A «Cigana com criança» é um caso dessa espécie de “híper-representação” – o quadro apresenta-nos a mesma mulher morena, com um bebé ao colo, que a voz do poema depois confirma e legitima: «Quando embalo o meu filho / antevejo um estranhamento / gravado em sua sina / e um brasido de fogueira em suas veias» (p. 25).

Ora, independentemente da relação que este livro estabelece com a obra dum autor específico como Amedeo Modigliani, o que melhor o define é o elogio da mulher. Da mulher nas suas inúmeras idades, nos seus indecifráveis mistérios, a ponto de podermos regressar ao título e transformá-lo simplesmente em fui quase todas as mulheres. Voz incessante deste encontro profundo entre o género e as palavras, para a poesia portuguesa contemporânea, tem sido Maria Teresa Horta, daí a escolha certeira dos seus versos para epígrafe do livro. Creio que, voluntária ou involuntariamente, a essência deste conjunto de poemas resume-se, em larga medida, à procura dum traço que é o inconsciente feminino (ou, universalmente, o inconsciente humano), aquilo que de mais silencioso define cada um de nós e é comum a todos.


Catarina Nunes de Almeida, poeta

 Apresentação do livro, 27 maio 2017





Um livro por semana

Depois dos recentes «Espaço livre com barcos» e «Uma claridade que cega», este livro novo de Graça Pires concentra os seus 40 poemas no universo do pintor Modigliani. Entre Natureza e Cultura, estes poemas integram um triplo olhar de acordo com o poema de Maria Teresa Horta («Os anjos») na abertura deste livro: «Voamos a lua, / menstruadas. / Os homens gritam: / - são as bruxas. /As mulheres pensam: / - são os anjos. As crianças dizem: / - são as fadas.»

Nestes poemas o ponto de partida são os quadros de Modigliani como pretexto e o ponto de chegada são os poemas de Graça Pires como arte final. O segredo está no facto de o poema articular, organizar e revelar uma osmose feliz entre o quadro do pintor e a memória (sangue pisado da vida) da autora, entre o motivo e a sua explanação, entre a referência e a sua dissertação. A infância (o seu percurso e a sua herança) fica no registo do poema da página 10: «Houve, na minha infância, / um mar antiquíssimo com barcas / acendidas no meio da noite. / Um vínculo sagrado ou de sangue / me liga à memória das ondas.» Mas poderia caber noutro poema: «Como esquecer aquele tempo / em que eu brincava com o vento / e rebolava na erva e cantava / com as cigarras e me espantava / com o desenho das nuvens?». Ou ainda noutro poema na página 24: «Sonhei toda a noite com barcos. / Apetece-me deixar as roupas / tombadas na cadeira / e ir procurar os verões da infância / com navegações alvoroçadas.»

Como convite à leitura cito um poema que assinala a vida como viagem, sua metáfora e seu reflexo: «Sou uma mulher / que ninguém chama pelo nome. / Hão-de nomear-me filha / do vento e dos caminhos. / Hão-de ver asas em meus dedos / quando danço. / Mas a nenhum lugar pertenço / e intrusa me sinto do futuro / adivinhado em minhas mãos. / Quando embalo o meu filho / antevejo um estranhamento / gravado em sua sina / e um brasido de fogueira em suas veias. / Acoitarei na água da retina / a linha inacabada dos seus passos.»

Nota final – a edição do livro integra 40 reproduções de quadros de Modigliani.

José do Carmo Francisco, poeta

“Gazeta das Caldas”, 6 abril 2017





Caríssima Amiga:

 Este seu novo livro, polifónico, por, nele, os poemas virem dedicados a "quase todas as mulheres de Modigliani", é, no fundo, parece-me, um canto ordenado por, para e com a autora, assumida, enquanto poeta, como entidade multiplicada por cada uma das ditas mulheres e por cada um dos poemas. Alguém que toma a voz da última das referidas mulheres - a "Jeanne de ombros nus" - e vai em busca das "palavras certeiras" (as da "Victoria”) ou (como diria "Antónia"), das "palavras únicas". Só com elas poderá "ir com os viajantes ou com as aves" ao encontro da "ausência" e da "infância" (que, na boca da "Antonia", é "aflita" e se confunde com o mar e com as " barcas /acendidas no meio da noite”). Na busca, também, dos "sonhos / brancos de menina", condenada a um regaço onde as mãos “estão trémulas e vazias”.

É, pois, de regressos (toda a poesia é um regresso) e do vazio -mas também de celebração - que falam os seus poemas.

Muito obrigado pela oferta. E um afectuoso abraço do

 Albano Martins, poeta

E-mail junho 2017






Recebi dias atrás “Fui quase todas as mulheres de Modigliani”. Modigliani é um dos meus artistas favoritos, e seus retratos são de uma beleza inigualável; ele e Picasso, com recursos estilísticos diferentes, deixaram obras sem igual retratando as mulheres com uma originalidade inalcançável. Com mais sutileza e menos ousadia do que Picasso, Modigliani traduz de forma sensível as múltiplas nuances do universo interior feminino.

Sua poesia continua sendo a maior que pude conhecer. Esse livro, como sempre acontece a cada novo volume que publica, me faz perguntar se haverá um limite para a sua capacidade de verter beleza em palavras.  Se pretendesse reproduzir aqui tudo que me encantou nessa obra, repetiria praticamente todos os seus versos, seja pela musicalidade, seja pela beleza das imagens criadas, pela escolha precisa e surpreendente de cada palavra empregada.  E sinto em suas entrelinhas uma maturidade existencial de raro encanto. Jorge Luis Borges em "Invocação a Joyce" diz "Eu sou todos aqueles que o teu obstinado rigor resgatou. Sou os que não conheces e os que salvas"; posso dizer a você que a leitura desse seu último livro me deixou a certeza de que a vida ainda vale a pena.

É um privilégio inigualável ter a sua amizade.

Abraços.

José d’Ângelo Rodrigues, poeta

e-mail de 28 de junho de 2017






Já li "Fui quase todas as mulheres de Modigliani" há algumas semanas. E, entretanto, reli "Uma claridade que cega" ontem.

Obrigado pela beleza que acrescenta ao mundo. Para mim, em tempos onde nos vemos rodeados por escombros e tanta cacofonia, poder ler poemas como os seus é ter a certeza de que "a verdade chega-nos apenas / através do silêncio dos que sonharam". A poeta Graça é desses que sonham.

No livro "Fui quase todas as mulheres de Modigliani", em particular, as imagens que evoca, a fragilidade latente a cada poema e a linguagem a que recorre são oxigénio para mim, neste tempo da técnica que sufoca cada vez mais, em que tudo tem de ser forte, sofisticado e perfeito. Não tem! A Graça evoca esse tempo frágil e romântico, mas também selvagem e feminino, o perfume das flores, os raios da manhã, as palavras dos amantes. E o sal do oceano, a água. É redentor lê-la, Graça. E que felicidade enorme, para mim, estabelecer esta troca que temos feito.

 

Resta-nos o mar, a aurora e os passos que damos, peregrinos que somos. É bom caminharmos juntos.

 

Um beijinho (e obrigado!),

 

Samuel Pimenta, poeta

E-mail, 7 julho 2017.







Amigas e amigos,

Na edição n. 416, em fevereiro de 2019, esta página recebeu o título “Versos sobre tela”. Ali juntei poemas de quatro autores escritos com inspiração em pinturas de artistas famosos.

Nesta edição, revisito o mesmo procedimento. Mas agora a abordagem é diferente: os poemas são de uma só autora e os quadros inspiradores também de um só pintor. Portanto, o que vemos no lado direito desta página resulta de uma parceria entre a poeta portuguesa Graça Pires e o pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920).

Graça Pires teve a luminosa ideia de escrever um livro inteiro com poemas baseados em quadros do genial Modigliani. Entre as dezenas, quiçá centenas, de mulheres retratadas pelo artista, a poeta selecionou 40 e dedicou um poema a cada uma delas. Esses trabalhos estão reunidos em seu livro Fui quase todas as mulheres de Modigliani, publicado em 2017. Você pode ler/ver ao lado cinco duplas desses retratos-poemas.

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Esta edição do boletim foi organizada com a colaboração da poeta carioca Solange Firmino. Ela me recomendou a leitura dos poemas "modigliânicos" de Graça Pires, que estão disponíveis no site da autora lusa, Ortografia do Olhar. Daí me veio a ideia deste boletim.

Solange também me ajudou na seleção dos poemas e, amiga da autora, forneceu-me a foto dela que você vê no alto desta coluna.

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Poeta de impressionante fertilidade, Graça Pires (Figueira da Foz, Portugal, 1946) estreou em 1990 com o volume Poemas e tem dezenas de títulos publicados. Coleciona também um bom punhado de prêmios literários. Veja aqui a lista completa de obras e prêmios da autora. Graça Pires é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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Passemos aos poemas. O primeiro texto pinçado em Fui quase todas as mulheres de Modigliani foi “Jovem ruiva com vestido de noite”, criado a partir do quadro homônimo pintado em 1918. Como em todos os textos, Graça Pires exibe refinada criatividade para inventar as histórias de cada uma das mulheres retratadas.

Neste poema, a jovem ruiva é quem fala em primeira pessoa. “Um incêndio atraiu / os meus cabelos em desalinho”, diz. O incêndio, naturalmente, associa-se à cor dos cabelos dela, que parece estar vivendo uma tórrida paixão, com experiências “na margem mais proibida da noite” e também durante a manhã.

“Menina de azul”, texto homônimo de um quadro de 1918, é o próximo poema. Impressionada com o rosto da garota — que é de fato o ponto fulcral da cena —, a poeta considera-o como algo “asfixiado / na moldura do tempo”. Uma infância eterna enquanto durar esse retrato saído dos pincéis de Modigliani.

O poema seguinte, “Mulher com chapéu”, baseia-se no quadro “Retrato de mulher”, de 1917-19. Também neste texto a retratada se exprime em primeira pessoa. Sonhadora, ela explica por que usa a frondosa cobertura para sua cabeça. “Comecei a usar um chapéu de abas / largas para iludir o brilho desmedido / que desliza sobre as coisas”. Mais do que sonhadora, é também dada a arroubos poéticos: “Por isso, apenas posso olhar a lua cheia / como fazem os poetas e as bruxas”.

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O próximo retrato, “Mulher com gravata preta”, foi traçado em palavras por Graça Pires a partir da imagem de mesmo nome, posta em tela há pouco mais de 100 anos, em 1917. Possuída pela ideia da imperenidade das coisas, a dama de gravata pensa em escrever um poema sobre a areia.

Assim como a lenda contada sobre o padre Anchieta, essa mulher entregaria seus dizeres poéticos aos azares da chuva ou das línguas do mar. E é sobre o mar que ela divaga, lembrando a infância, com ondas e veleiros. Mas, diferentemente da mulher com chapéu, ela não sabe ao certo por que começou a usar uma gravata preta.

“Comecei a usar”, diz ela, de forma acertada. Não se pense que amanhã ela poderia aparecer sem gravata, ou com um desses adereços de outra cor. Não: assim como a menina de azul, que será para sempre menina e com vestidinho azul, esta mulher está condenada a usar a mesmíssima gravata preta até o fim dos tempos. Afinal, isto não é cinema, mas fotografia.

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Agora, o último poema, “Jeanne com blusa branca”. Há muito que dizer sobre essa mulher. Trata-se de Jeanne Hébuterne (1898-1920), jovem pintora francesa por quem o coração de Modigliani batia fora do compasso. Esse retrato é apenas um dos muitos que ele pintou da musa, com quem chegou a ter uma filha, Jeanne Modigliani (1918-1984).

Em 1920, o casal teve um fim trágico. Modigliani morreu de tuberculose em 24 de janeiro. No dia seguinte, Jeanne, grávida de nove meses do segundo filho, atirou-se do quinto andar de um prédio. O pintor tinha 35, e ela 21 anos. A filha Jeanne foi criada pelas irmãs de Modigliani.

Mas retornemos ao poema “Jeanne com blusa branca”, baseado num quadro de 1918. Esvoaçante, a personagem criada por Graça Pires se deixa inebriar com a luz: “Abri de par em par as portadas das janelas / para deixar passar a luz deste alvorar ao sul”. Além disso, sente na pele o “veludo dos pêssegos” como prenúncio de “manhãs claras”. Mas não se enganem: nem tudo são idílios. Ela também confessa que sente flutuar no próprio olhar “o pólen da tristeza”.

Cem anos depois das telas de Modigliani, a poeta Graça Pires presenteia, com esses deliciosos e autênticos retratos, a todos os leitores capazes de se emocionar com a língua portuguesa.

 

Um abraço, e até a próxima,

Carlos Machado, poeta

Poesia.net

Salvador, 8 julho 2020






Poesia em vários tons

 

A poesia de Graça Pires começou por arrastar consigo um ónus de descaso crítico quase insuportável, tendo em apreço a sua inquestionável qualidade já nos primeiros tempos. E, todavia, malgrado o fastio comentarista, foi notável a coragem da autora ao teimar, teimar sempre, confiando no reconhecimento completo que um dia acabaria por chegar. Será que ainda não chegou? Em boa verdade, Graça Pires, com os seus livros, já arrecadou um importante conjunto de prémios: Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho, Prémio Nacional de Poesia Poeta Ruy Belo, entre outros. Falta-lhe talvez o eco altissonante de parangonas nos jornais, entrevistas em canais televisivos, um editor forte e interventivo junto dos media para que o seu talento ganhe a projecção que merece.

Em 2012 a poeta abalança-se a uma primeira recolha de poemas (1990-2011) e a coesão do seu discurso faz ressaltar a solidez do verbo efabulado entre a quimera e a luz predadora, sem complacências interditando o sonho àquele que passou a dormir pelas praias.

 

Era um buscador de pérolas.

Atravessou a mais densa escuridão

para abrigar na expressão do rosto

uma luz absoluta. Ficou cego.

Agora há uma ferocidade

suspensa nos seus olhos.

E dorme pelas praias

onde só as mulheres

vestidas de negro

escutam o grito das areias.

 

A mensagem certeira de GP vinda de um desvendamento de si fortemente mesclado de frémito e ousadia remete os seus afluentes de diferenciação para um mesmo caudal de emoções. E é ao disciplinar esse mesmo caudal até à síntese que dele retém as extensões existenciais mais vibrantes e as ressonâncias mais afáveis, que Graça Pires revela quão engenhosa a sua capacidade para transformar em matéria lírica pulsões primordiais em cujos significados tantos se revêem.

GP pode ser hoje considerada um dos nosso poetas do desejo, da paixão, da experiência amorosa levedada em linguagem assistida por um léxico de fina ourivesaria, que exclui a violência e exalta o prazer, expulsando a grosseria do lugar onde só pode estar “a lembrança dos dias festivos”. Sim, Poemas escolhidos (1990-2011) ajuda e bem a estabelecer o perfil da mulher de letras na relação com a maior parte da sua obra.

Do novo livro de Graça Pires, Fui quase todas as mulheres de Modigliani, (ed. Poética) lançado recentemente na Livraria Ferin, em Lisboa, com apresentação brilhante da jovem Catarina Nunes de Almeida, talvez não seja errado, tendo em conta o percurso em questão, falar-se de divertissement. GP não põe de lado nenhuma das ferramentas com que habitualmente opera, mas a ideia que subjaz ao livro tende a parecer uma homenagem a Modigliani também convertível em louvor às mulheres que o inspiraram e cujos retratos – quarenta – o livro incorpora. Seja como for GP estabelece um surpreendente diálogo com quase todas as mulheres (nuas e vestidas) que para o artista posaram:

 

Deitei-me de bruços revelando,

do corpo, a curva mais perfeita.

Estou quieta. Submissa.

Como quem aguarda o itinerário adiado

das mãos e o lento queixume dos desejos.

Retenho entre as pernas

os despojos de todos os prodígios.

Fico assim nua quando, nas horas

diurnas, provo do teu vinho

(Graça Pires dando a palavra à mulher Nu de costas, p. 20)

 

Júlio Conrado, escritor

“As artes entre as Letras”, julho 2017







GRAÇA PIRES, FUI QUASE TODAS AS MULHERES DE MODIGLIANI. Braga, Poética Edições, 2017, 56 pp.

 

Na literatura portuguesa atual, existem escassos volumes de poesia que abracem o tema da ecfrásis, refletindo de forma criativa sobre uma determinada obra de arte visual. Mais raros ainda são os livros consagrados em exclusivo ao legado de um artista específico, percorrendo as diversas fases da sua criação. Fui quase todas as mulheres de Modigliani (2017), de Graça Pires, reúne ambas as caraterísticas, através de um conjunto de quarenta composições centradas nos retratos femininos pintados pelo célebre mestre.

Amedeo Clemente Modigliani (1884-1920) foi uma figura extraordinária, não surpreendendo que tenha suscitado o interesse de escritores, cineastas e artistas plásticos. Conhecido entre os seus pares como Modi ou l’Italiano, emigrou para a capital francesa, em 1906, então o centro da vanguarda. Aí desenvolveu a sua obra, constituída sobretudo por retratos de mulheres, vestidas ou nuas, de rosto oval, pescoço longo e olhos amendoados. Modigliani cedo cultivou uma imagem de boémio, amante de jovens belas, do absinto e das drogas. Após inúmeros excessos, com apenas trinta e cinco anos, sucumbe à meningite tuberculosa. Em vida, a obra de Modigliani não granjeou uma aceitação significativa, pelo que o artista se viu forçado a vender as suas telas a preços irrisórios, para sobreviver e saldar dívidas. Contudo, depois da morte, o seu legado suscita o apreço dos especialistas, e os quadros atingem, na atualidade, valores astronómicos.

Os poemas incluídos em Fui quase todas as mulheres de Modigliani primam pela capacidade de dialogarem com as obras, reinterpretando-as e expondo-as de acordo com a sensibilidade da escritora. Para tanto, cada texto centra-se apenas num quadro e assume, como título, o nome dessa tela. Neste contexto, o livro em análise constitui uma “galeria de palavras”, onde as telas se recriam através dos versos, ganhando uma nova paleta de cores e significados.

Pires escreve exclusivamente sobre retratos de mulheres, partindo de informações biográficas das várias figuras que posaram para o artista, recolhidas através de uma pesquisa aturada. Quando os dados disponíveis acerca de certas pessoas são escassos ou fragmentários, a autora dá largas à licença poética para preencher as lacunas. Em qualquer dos casos, imprime sempre uma perspetiva feminina aos poemas, onde pontificam o erotismo, o amor, a solidão e a angústia. Nesta breve crítica ao poemário, centrar-me-ei apenas nas duas mulheres que mais indelevelmente marcaram Modigliani, por ordem cronológica de chegada à sua vida: a escritora russa Anna Akhmatova (1889-1966) e a pintora Jeanne Hébuterne (1898-1920), o seu amor mais belo e trágico.

Anna Akhmatova, nome literário de Anna Andreevna Gorenko, conheceu Modigliani em 1910, quando viajou para Paris, em lua-de-mel, na companhia do marido, Nikolai Gumilev. A jovem de vinte e um anos corresponderia ao ideal de beleza do artista: alta, de olhos verdes e cabelo negro. Segundo os relatos da época, Akhmatova impressionaria Montparnasse, ao ponto de os transeuntes pararem para admirar a sua beleza. A poeta encontrava-se mesmerizada pelo artista, comparando-o ao semideus grego Antínoo; por seu turno, Modigliani pintava-a com joias clássicas, como se fora uma divindade egípcia. Naquele verão chuvoso, encontravam-se com frequência, ora para visitarem o Museu do Louvre, ora para declamarem poemas, sentados num banco do Jardin du Luxembourg, sob o guarda-chuva de Modigliani. É lícito pensar que esta paixão, tão breve quanto fulgente, tenha moldado a arte do pintor, que elaborou pelo menos dezasseis retratos da amante.

Pires evoca duas destas obras nos poemas “Anna com vestido negro” e “Anna com vestido branco”, posicionando a musa ora no início, ora no final do dia. O primeiro texto parece-me ser o mais conseguido, pela capacidade de captar o pensamento da retratada:

 

Pouso devagar as minhas mãos

habituadas à luxúria dos gestos

e sento-me, imperturbável,

no meu sofá preferido.

 

Possuo nas costas de cada mão

um risco de contágio de sinais noturnos

oxidados no reflexo de vultos antigos

que me açoitam o olhar.

 

Acolho o silêncio até à nesga de luz

que ilumina a esquiva linha de uma sombra

suspensa na pureza da noite.

 

Se me perguntarem o que faço aqui,

nesta serenidade mordaz, eu direi:

é um ritual diário, este, de me vestir

de negro para ver findar o dia.

 

Até agora nenhum crepúsculo

me deixou indiferente.

Mas a noite, essa, já começa

a pesar-me sobre o peito.

(Pires 2017: 14)

 

A poeta recorre à primeira pessoa, uma voz íntima e confessional, que aproxima o leitor do drama sentido pela jovem, naquele instante. Akhmatova posa no sofá, para um retrato do amado, e recorda os momentos de sensualidade vividos com este, sugeridos pela expressão “mãos / habituadas à luxúria dos gestos” (Pires 2017: 14). Pires recria a atmosfera do estúdio, evocando o silêncio e o final do dia, a “sombra / suspensa na pureza da noite” (Pires 2017: 14). Contudo, a serenidade da musa é aparente, pois sabe que o crepúsculo, que tanto aprecia, é apenas um instante antes da noite, tal como o seu affaire com o pintor. Os versos finais indiciam a tristeza da previsível separação, aquando do seu regresso à Rússia: “a noite, essa, já começa / a pesar-me sobre o peito” (Pires 2017 14).

Na Primavera de 1917, Modigliani travou conhecimento com Jeanne Hébuterne, uma bela estudante de arte, de apenas dezanove anos, que o mesmerizou. O artista termina o seu relacionamento com a poeta inglesa Beatrice Hastings, ao passo que a jovem é afastada pela família conservadora, que não via com agrado a ligação ao boémio. Em breve, vivem num estúdio da Rue de La Grande Chaumière, viajam, trabalham e convivem com alguns dos mais célebres pintores da época. Tratou-se de uma fase particularmente fértil na produção artística de Modigliani, que recorreu à companheira como musa para as telas. No ano seguinte, Hébuterne dá à luz Jeanne (1918-1984) e, em breve, engravida de novo, para gáudio de ambos. Contudo, Modigliani é diagnosticado com meningite tuberculosa, a doença que o mataria. Hébuterne não resiste ao desgosto e, embora grávida de oito meses, suicida-se, precipitando-se de uma janela do quinto andar. O seu epitáfio, "Companheira devota até ao sacrifício extremo", resume a paixão que sentira pelo mestre italiano.

Pires consagra três poemas da obra em estudo a Jeanne, um número superior àqueles que dedica a qualquer outra mulher. Tal reforça a importância desta paixão na vida e obra de Modigliani. A autora abre a coletânea com “Jeanne” (Pires 2017: 7); apresenta, perto do final, “Jeanne com blusa branca” (Pires 2017: 40); encerra com o pungente “Jeanne de ombros nus” (Pires 2017: 3). É precisamente este último texto que transcrevo e analiso:

 

Acordei com coragem de morrer,

como se a tua ausência cortasse

os meus pulsos, até que o sangue

vertesse todo sobre mim.

Sitiada por um silêncio onde me perco

sem recuo, entro, destemida, na luz

oblíqua em que antevi a tua morte.

 

Vou até à varanda para não sufocar de dor.

E ouço claramente a tua voz,

como se a proximidade de um temporal

me enlouquecesse com o ruído do mar.

 

Ouço a tua voz. E vejo-te. E desço,

a pique, até à eternidade dos teus olhos.

(Pires 2017: 46)

 

O poema é marcado pelo signo da morte ­­— quer a de Modigliani, quer a de Jeanne, que se prepara para cometer suicídio, por não resistir ao desgosto causado pela perda do companheiro: “como se a tua ausência cortasse / os meus pulsos” (Pires 2017: 46). O solilóquio confessional é trespassado pelo desespero e pela alucinação: “E ouço claramente a tua voz” (Pires 2017: 46). O final do poema coincide com a verdade biográfica: tal como a Jeanne real, a figura fictícia precipita-se para a morte, procurando o reencontro com o amado perdido: “E desço, / a pique, até à eternidade dos teus olhos” (Pires 2017: 46). Trata-se de um texto típico do livro em análise, pois mistura o factual com a interpretação subjetiva que a poeta tece da realidade. Pires concentra-se num momento singular e apropria-o em versos longos, que geram um ritmo sombrio e melancólico.

Outras mulheres povoam os retratos do mestre italiano e, por inerência, os poemas de Pires. Destaco “Elvira” (Pires 2017: 11), ou Quique, filha de uma prostituta, que o artista tomou por amante e modelo; “Alice” (Pires 2017: 19), pré-adolescente de ar plácido, que a autora reinterpreta nestes versos temperados de sensualidade “Sabem: os agrados das meninas / são suculentos como os medronhos bravos / tão secretos que só as mães os adivinham“ (Pires 2017: 19); “Lunia” (Pires 2017: 24), ou Lunja Czechowska, uma amiga polaca, que viveu com Modigliani enquanto o marido servia na Primeira Guerra Mundial; “Dedie” (Pires 2017: 33), de apelido Hayden, cujo mirar magnético suscita estes versos: “Dentro dos meus olhos, um mar sem limite / (…) / Tão breve a luz na idade do rosto” (Pires 2017: 33).

Em suma, mais do que tecer uma mera descrição das telas de l’Italiano, Pires reinterpreta-os recorrendo à sensibilidade poética e à capacidade de captar pormenores como os olhos, a pose, o vestuário das figuras que Modigliani imortalizou. Neste espírito, enverga a pele das retratadas, imaginando o seu sentir e pensar. Atribui uma voz singular, feminina, a essas mulheres que, no fundo, são também uma parte da autora, tal como o título do livro indicia. Para tanto, socorre-se de informações biográficas, que complementa com invulgar imaginação, certa de que a liberdade ficcional se sobrepõe a qualquer rigor histórico. Com mais de uma dúzia de livros publicados, Pires atinge, em Fui quase todas as mulheres de Modigliani, o domínio da lírica e a capacidade de efabulação inerentes àqueles poetas que o vento não levará.

 

João de Mancelos

(UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR)

 

Nota biográfica: João de Mancelos é doutorado em Literatura Norte-americana, detém um pós-doutoramento em Estudos Literários e uma agregação em Estudos Culturais. Lecionou na Universidade Católica Portuguesa (Viseu) e na Universidade de Aveiro. Presentemente, é professor na Universidade da Beira Interior. É autor de vários livros de poesia, conto e ensaio.